Pelo menos quatro mil mulheres contraem a fístula obstétrica, por ano, no país. Os casos da doença tendem a aumentar e o médico especialista, Igor Vaz, fala da necessidade de reforçar o sistema de saúde, nas zonas recônditas, para que haja mais partos seguros.
Fístula obstétrica é uma complicação grave que ocorre durante o parto, caracterizada por ruptura no tecido que separa a bexiga do aparelho reprodutor feminino, o que faz com que a mulher passe a urinar ou mesmo defecar descontroladamente, o que leva ao estigma e à discriminação.
De um parto aparentemente normal, Maria Joaquina, nome fictício, natural de Massinga, na província de Inhambane, de 19 anos de idade, teve sequelas indisfarçáveis.
“Eu sempre acordava molhada. Quando ia à casa de banho, apercebia-me de que depois ficava toda molhada, e não era água, era urina”, contou a jovem que perdeu o seu bebé no parto, e desde então, ela, a mãe, começou a usar fraldas descartáveis, por não conseguir controlar a sua urina.
Uma doença que surge após partos demorados ou obstruções para dar à luz, segundo explicou Igor Vaz, médico especialista.
“Quando o bebé sai da cavidade uterina para o exterior, passa pelo canal vaginal. Quando sai rápido pode lacerar alguns tecidos. Se ele ficar muito tempo no canal de parto, a cabeça do bebé comprime o tecido da pélvis feminina contra os ossos. Estes tecidos perdem a circulação e acabam por morrer. A partir daí, começa a haver perda de urina, de fezes, ou de ambos”, disse Igor Vaz.
A fístula obstétrica ainda é desconhecida por muitas mulheres, que sofrem em silêncio.
Há 12 anos, Josefa Luís, outra paciente, perdeu a capacidade de controlar as suas necessidades biológicas, logo após o nascimento do seu primeiro filho. Teve outros três e só em 2018, sete anos depois, soube que sofria de fístula obstétrica.
O trauma, a depressão e o isolamento são algumas das marcas deixadas pela doença.
Dados do Ministério da Saúde apontam que, anualmente, mais de quatro mil mulheres contraem a fístula obstétrica, em todo o país, das quais, pelo menos, quinhentas são operadas.
Em média, a cirurgia leva de uma a seis horas, e é, em 80 por cento dos casos, a solução definitiva para o problema, segundo o médico especialista Igor Vaz.
O Dia Mundial da Luta contra a Fístula celebra-se anualmente, a 23 de Maio, com o objectivo de promover o compromisso dos países na eliminação da doença e reflectir sobre os progressos alcançados.